Split Payment na Reforma Tributária: o Impacto no Caixa e no Capital de Giro das Empresas

Autor

Alletre Alletre

Data da Postagem

dezembro 1, 2025

A partir de 2027, a Reforma Tributária começa a mexer em algo bem mais sensível do que o texto da lei faz parecer: o caixa das empresas. Não é apenas uma mudança de imposto, é uma mudança na trajetória do dinheiro dentro do negócio. Entre as novidades, o split payment é uma das que mais altera a rotina financeira. Ele atinge exatamente aquele pedaço de dinheiro que muita empresa usava sem perceber: o capital de giro invisível que vinha dos tributos.

Hoje a lógica é mais ou menos assim: a empresa vende, recebe o valor cheio na conta, usa esse dinheiro para pagar fornecedores, folha, aluguel e outras despesas e, em um momento posterior, recolhe os impostos. Nesse intervalo, o valor dos tributos está dentro do caixa. Não é lucro, não pertence à empresa no longo prazo, mas funciona como fôlego financeiro. Na prática, é como se o negócio pegasse um empréstimo gratuito e de curtíssimo prazo com o dinheiro do imposto. Isso ajuda a segurar o mês, ainda que de forma pouco consciente.

Com o split payment essa dinâmica muda. O modelo chamado de pagamento da transação com divisão do valor funciona em outra lógica. Quando o cliente paga, o dinheiro não vai direto para a empresa para depois ser repartido. Primeiro ele passa pelo sistema financeiro, que faz a divisão entre o que é imposto e o que é receita líquida da empresa. A parte correspondente ao IBS segue para estados e municípios, a parte da CBS segue para a União e só o que sobra, já descontados esses tributos, chega à conta do negócio. Na prática, o imposto deixa de transitar pelo caixa. A empresa deixa de ver no extrato o valor total da venda e passa a enxergar apenas a sua parte.

A consequência disso é simples de enunciar e mais complicada de administrar. Se o imposto não entra, não pode ser usado. O caixa fica mais enxuto porque uma fatia do dinheiro que aparecia na conta simplesmente some do fluxo. O desembolso parece mais pesado porque as despesas continuam batendo à porta e o saldo disponível ficou menor. E a flexibilidade diminui porque aquela gordura que ajudava a amortecer atrasos, estouros de prazo e oscilações de faturamento não está mais lá.

O impacto não é igual para todo mundo. Empresas que vendem à vista, com boa margem e pouco prazo, tendem a sentir um aperto menor. Já quem vive de vendas parceladas, especialmente com prazos mais longos, vai sentir a diferença no dia a dia. Em muitos setores a combinação de IBS e CBS pode girar em torno de algo próximo de 26%. Vamos ao exemplo: em uma venda de mil reais, isso significa que a parte líquida da empresa fica em torno de setecentos e quarenta reais. Na venda à vista, esses setecentos e quarenta entram de uma vez na conta. Na venda em três vezes, eles chegam diluídos em três parcelas, já sem o imposto, justamente em um momento em que mercadorias, comissões, parte da folha e despesas fixas já foram ou serão pagas.

Em linguagem bem direta, o dinheiro começa a entrar mais devagar e mais magro, enquanto continua saindo rápido. Isso aumenta a necessidade de capital de giro. O prazo que a empresa dá para o cliente vira custo financeiro para o negócio. Antes isso já existia. A diferença é que o imposto transitando pelo caixa ajudava a disfarçar esse custo. Quando o split payment entra em cena, o buraco fica mais evidente.

Essa mudança obriga também uma revisão na forma de pensar preço. Muitos empresários ainda formam preço olhando apenas para o faturamento bruto e para uma margem calculada de cabeça. Em um cenário com split payment, o que realmente importa é o valor líquido que entra no caixa depois da retenção do imposto, somado ao prazo em que esse dinheiro entra. O preço precisa cobrir custo, despesas, impostos e o custo do capital que será usado para sustentar o prazo entre vender e receber. Se isso não for calculado com cuidado, a empresa pode aumentar as vendas e, ao mesmo tempo, piorar a situação do caixa.

Outro ponto que ganha protagonismo é o fluxo de caixa. Ele deixa de ser um controle eventual e passa a ser um painel de comando. O extrato do banco mostra o que já aconteceu, o fluxo de caixa mostra o que ainda vai acontecer. Com o split payment, a necessidade de olhar para frente cresce. Fica mais importante saber em quais semanas o dinheiro vai sobrar, em quais dias pode faltar, quanto capital a empresa precisa para segurar os prazos atuais e o que muda se prazos, preços ou volumes forem ajustados. Para muitas empresas, a sobrevivência na transição vai depender diretamente da qualidade do fluxo de caixa projetado.

Do ponto de vista operacional, o split payment também exige mais organização. Bancos, adquirentes de cartão, sistemas de pagamento e sistemas fiscais passam a conversar com mais intensidade. Em operações mais complexas, será preciso conciliar o que foi faturado, o que o cliente pagou, quanto de imposto foi separado e qual valor líquido efetivamente entrou no caixa. Diferenças, atrasos e falhas de integração vão exigir atenção. A conciliação bancária deixa de ser apenas uma boa prática e passa a ser condição básica de controle.

Existe ainda um componente de risco ligado à inadimplência. No modelo de split payment, o imposto só é remetido quando o cliente paga. Isso evita situações em que a empresa recolhe tributo de uma venda que nunca se realizou de fato. Por outro lado, como o valor líquido recebido já é menor em cada pagamento, qualquer atraso gera mais pressão no caixa. Fica menos espaço para erro, improviso ou aposta em vendas sem análise de risco.

No fim, o split payment é menos sobre discutir se a carga tributária é alta e mais sobre entender que o uso do dinheiro do imposto muda de lugar. O governo recebe antes, a empresa perde a possibilidade de usar esse dinheiro no caminho. Para quem já tinha caixa ajustado e planejamento em dia, a transição tende a ser mais suave. Para quem vivia no limite, usando o imposto como sustento mês a mês, a mudança pode ser o ponto que expõe problemas antigos.

É aqui que o planejamento financeiro deixa de ser tema abstrato e vira necessidade prática. Antecipar o efeito do split payment em cada empresa, simular cenários de prazo, revisar custos, rever a política de vendas e ajustar o fluxo de caixa passa a ser tão importante quanto vender bem. Não se trata apenas de entender a norma, mas de traduzir essa norma em números: quanto de caixa a empresa perde, quanto de capital de giro passa a ser necessário, que prazos deixam de ser viáveis e quais ajustes podem equilibrar a conta.

A Alletré pode apoiar justamente neste ponto. O foco é pegar a lógica do split payment e trazer para a realidade dos números da empresa, simular o comportamento do caixa com a nova forma de retenção de impostos, projetar o impacto em diferentes prazos de venda, calcular a necessidade de capital de giro em cada cenário e mostrar de forma clara onde estão os riscos e as oportunidades de ajuste. O objetivo é simples: preparar o negócio para a nova regra antes de ela aparecer como problema no extrato bancário.

Se você quer entender o que o split payment pode fazer com o caixa da sua empresa e como se organizar financeiramente para essa mudança, o próximo passo é sair da teoria e olhar para os seus próprios números. A Alletré pode ajudar a montar esse plano: agende uma conversa com a Alletré.